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O reflexo das redes sociais no jornalismo brasileiro


A suposta decisão de um cantor carioca de funk em fazer vasectomia foi destaque em sites de notícia brasileiros. Mr. Catra, que afirma ter três mulheres que “vivem com ele em harmonia”, afirmou em sua conta no Facebook que vai fazer a cirurgia depois de “32 filhos e quatro netos”. A “informação” recebeu 57 mil curtidas, foi compartilhada seis mil vezes e recebeu 9,5 mil comentários. Na verdade, era uma brincadeira, desmentida no dia seguinte pelo próprio músico, alegando que participou de uma pegadinha com um humorista.

A pergunta é: quem é Mr. Catra para merecer tanto destaque na mídia? E mais: qual é o grande sucesso da carreira dele que faça parte do cotidiano do povo brasileiro e explique tanto sucesso nas redes sociais? E o que uma suposta vasectomia feita por ele irá mudar na vida da população? Um episódio como esse é apenas uma mostra do que se tornou o jornalismo, impulsionado pelas redes sociais. A notícia passou a ser pautada pelas curtidas e compartilhamentos que uma suposta celebridade recebe.

Em um artigo publicado no site “Observatório da Imprensa”, o jornalista Cleyton Carlos Torres chama a atenção para este fenômeno, que enxuga redações com o argumento de que posts em Facebook e Twitter podem substituir o aprofundamento da reportagem e o bom repórter. Para ele, trata-se da “facebookização do jornalismo”.

“Quando se falava em jornalismo cidadão e participação do usuário, muitos pensavam em um jornalismo global-local, com o dinamismo e velocidade que a internet exige. Porém, o que temos visto não vai ao encontro desse pensamento, já que o espaço do cidadão no jornalismo é medido apenas pelo seu humor, a participação do usuário é medida em curtidas e o jornalismo muitas vezes não é jornalismo, sendo apenas uma mera isca para likes e shares”, afirma Torres em seu texto. E completa: “O abuso de listas, o uso de “especialistas de Facebook” como fonte, pautas sendo construídas com base em timelines alheias ou o frenesi encantador de likes e shares têm feito com que uma das maiores armadilhas das redes sociais abocanhe o jornalismo”.

Graças a essa “facebookização”, pessoas como Kéfera Buchmann, a brasileira com o maior número de seguidores no Youtube (6,1 milhões) ganha o mesmo espaço na mídia que uma personalidade real ou um fato que possa influenciar na vida dos brasileiros. E esta fama toda servirá de mote para ela escrever um livro, contando sua história. Talvez a primeira a ler seja MC Melody, uma menina de 8 anos que canta funk e “ensina cultura” para o povo apenas com seu “afinado” falsete.


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