DESTAQUES

10/random/ticker-posts

Na oreia

O texto abaixo é sensacional! É de um típico blogueiro caipira, o advogado Carlos José Reis de Almeida (Cal), de General Salgado, na região de Araçatuba. Hoje, ele mora no Mato Grosso do Sul, mas não esquece as raízes e mantém o blog Proseando, que vale a pena visitar, pois ajuda a divulgar o nosso interior paulista.

Somos caipiras

Tenho o hábito de incomodar os amigos metropolitanos dizendo que eles são caipiras da cidade, pois apesar de instruídos, evoluídos, modernos e antenados, quando chegam ao interior ficam parecendo baratas tontas, demonstram um desconhecimento abismal sobre as nossas coisas.

Digo isso porque, infelizmente, ainda existem pessoas que apenas por terem nascido e crescido nos grandes centros urbanos, consideram-se seres superiores. Aparecem no interior se achando o máximo, mas não sabem se melancia nasce no chão ou em árvore.

Certa vez, um primo paulistano trouxe a General Salgado um amigo que nunca antes saíra de São Paulo: o rapaz tinha medo das galinhas que ciscavam no quintal!

Esses caipiras metropolitanos não sabem se a vaca é do rabo pra frente ou do rabo para trás! (Aviso aos caipiras da cidade: a vaca fica do rabo para a frente; atrás do rabo não existe mais vaca!)

De outra vez, na casa de um amigo paulistano tive que perder a paciência com um sujeito metido a besta, que se dizia o máximo e passou, sem motivo nenhum, a caçoar e ofender a gente do interior.

O bacana desandou a generalizar os caipiras, tratando-nos por ignorantes, analfabetos e atrasados. Talvez por conta do meu característico sotaque de interiorano paulista descendente de mineiros, a conversa veio contra mim e me vi obrigado a devolvê-la na mesma moeda:

- Você conhece Nova Castilho? São Luiz do Japiúba? Los Angeles? Las Vegas? Dallas?, perguntei-lhe.

- Não, não conheço!

- Então você é muito mais ignorante do que eu!, arrematei com certo desdém, sentindo-me vingado. Fui grosso, mas paguei-lhe na mesma moeda.

Meu amigo Pinga Fogo (Sidnei Constantino, para os chegados) conta que um dia desses apareceu na cidade um paulistano com a cara esfolada, que narrava, entusiasmado, suas aventuras em solo interiorano:

- Meu! Fui lá no sítio do titio, montei num cavalinho meio beginho... Foi cada pinote! Ôrra, que aventura, meu!

O salgadense Euflauzino Teodoro Castilho (1893-1964), conhecido como Coronel Eufrosino, um dos pioneiros da terrinha, quase foi vítima do próprio jeitão de caipira. Na primeira oportunidade em que foi conhecer a capital paulista, ficou maravilhado com a grandiosidade e a beleza dos prédios, surpreendeu-se com o tamanho de tudo. Passeando pela cidade deparou-se com o imenso prédio da sede do Banespa, naquela época um dos mais vistosos e imponentes da cidade, próximo ao Vale do Anhangabaú.

Enquanto admirava fixamente a construção, foi notado por um daqueles malandros da cidade, ditos espertalhões, que viu a possibilidade de passar um otário pra trás.

O sabido aproximou-se do caipira e puxou assunto. Ficou sabendo que Euflauzino era de General Salgado (“fica longe, perto do Mato Grosso”), que era sitiante, e que estava debutando na capital. Seguiu-se breve diálogo:

- O senhor gostou deste prédio?

- Nossa! Gostei demais.

- O senhor não se interessa em comprá-lo, preço de ocasião!

- Rapaz, como eu gostaria de ter esse prédio. Já pensou se eu voltar pra minha cidadezinha e contar pra todo mundo que eu comprei esse predião! O senhor está vendendo mesmo?

- Estou vendendo e muito barato.

- Eu tenho interesse sim, disse o salgadense. Mas dinheiro vivo eu não tenho. Tenho outro imóvel que posso colocar no negócio se o senhor aceitar. Podemos bater o martelo agorinha...

- Eu posso aceitar o seu imóvel, mas antes tenho que vê-lo, declarou o malandro, já contando com o sucesso do golpe.

Euflauzino chamou o paulistano esperto:

- Vamos lá ver o meu imóvel.

Caminharam algumas quadras, ele apontou o prédio da Estação da Luz:

- O meu é aquele, se você aceitar a gente troca “na oreia”!


COMENTE COM O FACEBOOK



COMENTE COM O DISQUS




COMPARTILHE